Os dados de 2013 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, revelam um cenário que parece indicar o início da reversão do auspicioso ciclo de melhorias sociais iniciado em 2004. De fato, o comportamento da estratificação social das famílias brasileiras, classificadas pela situação do membro mais bem remunerado, configura preocupante retrocesso na mobilidade social. Chama atenção a significativa retração da Média Classe Média, que se reflete numa expansão “espúria” da Baixa Classe Média e decorre de um processo de mobilidade descendente. Da mesma forma, destaca-se o crescimento da camada de Miseráveis, inédito desde 2004.
Em apenas um ano 780 mil pessoas da Alta Classe Média e 2,6 milhões da Média foram rebaixadas socialmente, atingindo um expressivo contingente de 3,4 milhões de pessoas. Como a Baixa Classe Média, que potencialmente as recebeu, cresceu “apenas” 2,4 milhões, sugere-se que 1 milhão desceu dessa camada para posições inferiores. Nesse estágio, a mobilidade descendente em cascata já afeta 4,4 milhões de pessoas. Por fim, ao 1 milhão de pessoas que desceram da Baixa Classe Média somam-se os 330 mil que caem da Massa Trabalhadora (pobre), resultando na expansão de 1,3 milhão de pessoas na situação de Miseráveis e totalizando, assim, 5,7 milhões de pessoas afetadas, ou seja, o equivalente a 2,8% da população.
A situação dos jovens adultos de 25 a 29 anos
A faixa etária de 25 a 29 anos é muito significativa por abranger o conjunto de jovens que já ingressaram ou estão ingressando plenamente no mercado de trabalho e, em medida razoável, constituem novas famílias. Dessa forma, são particularmente sensíveis às conjunturas e perspectivas do desenvolvimento econômico e social. Por isso, sua evolução merece especial atenção, entre outros aspectos, por seus desdobramentos na conformação dos humores da chamada opinião pública.
Entre 2012 e 2013 um contingente de 399 mil jovens foi rebaixado da Alta e Média Classe Média. Como a Baixa Classe Média expandiu-se tão somente em 274 mil, 125 mil pessoas dessa camada desceram para posições inferiores. Somadas aos 35 mil que caíram da Massa Trabalhadora, o resultado é o crescimento da camada de Miseráveis em 160 mil. Por esses números, 684 mil jovens adultos sofreram mobilidade descendente em apenas um ano, representando 4,4% da população dessa faixa etária. Portanto, sofreram um impacto superior àquele do conjunto da população (de 2,8%).
Restringindo o segmento aos jovens adultos que tiveram acesso ao ensino superior, aponta que 168 mil caíram da Alta e Média Classe Média; 21 mil da Baixa (168-147); e 8 mil da Massa Trabalhadora, totalizando 197 mil pessoas, o que equivale a 5,1% da população dessa faixa etária. Observa-se, assim, que a parcela mais escolarizada foi mais afetada que o conjunto dos jovens dessa faixa etária, fato que torna o cenário ainda mais preocupante.
Por fim, um enfoque adicional bastante interessante é propiciado pelo exame da situação da parcela desses jovens que se encontra ocupada no mercado de trabalho com um padrão de vida de Média Classe Média,2 a qual, como vimos, foi uma das camadas mais afetadas pelo rebaixamento social.
Para encerrar, esse cenário que aponta sérias dificuldades para os jovens adultos ainda na fase de estagnação, e mesmo para aqueles com acesso ao ensino superior, é um indicador significativo do porte da regressão social que pode resultar do ajuste recessivo que está sendo imposto à sociedade brasileira.
Fonte:http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1864
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