Para que se possa compreender as razões que levaram o Partido Socialista Brasileiro ‒ PSB a optar pelo apoio programático à candidatura do Senador Aécio Neves é preciso partir de um elemento de realidade, que já estava posto e caracterizado, quando nosso saudoso Governador Eduardo Campos decidiu-se por protagonizar a luta pela mudança da qualidade de nossa práxis política: as realizações do PT de Lula não são as mesmas de Dilma Roussef.
O diagnóstico não tinha por fundamento os nomes ou as habilidades de cada qual. Referia-se de forma direta ao fato apontado por vários teóricos da política, segundo o qual há um envelhecimento de ideais, inerente à permanência no poder. Esse processo de fadiga prática e teórica leva, não raro, à aristocratização de lideranças que, na origem, eram comprometidas com as causas populares. Ou seja, o PT que está no poder há 12 anos envelheceu e se afastou de sua base social e de seus ideais políticos.
Impunha-se, portanto, como tarefa política, criar para os brasileiros uma oportunidade concreta de alternância, que é um princípio básico do regime democrático, ao qual nosso Partido se engajou sem qualquer ambivalência, já no momento de sua fundação, em 1947.
Essa qualificação pode parecer estranha, mas é relevante no contexto de época e também na atualidade, quando se tenta sacrificar um princípio do regime democrático, em nome de uma tentativa de apropriação das causas populares, por uma única agremiação partidária. Ora, os que de fato são democratas não podem partilhar da ideia de uma democracia condicional, ou seja, que só é boa quando as forças pelas quais militam vencem.
A análise qualificada do cenário político exige deixar de lado o maniqueísmo simplório, que ao longo de toda a história justificou os totalitarismos à direita e à esquerda. Nesse sentido preciso, o PSB se mantém fiel a suas tradições e recusa as pechas que servem a um discurso que se aproxima dos malfadados ideais do partido único.
Nota-se, em complemento, que a aproximação com o PSDB não é incondicional e está baseada em diretrizes programáticas com base em sugestões do PSB. Daí porque, a nossa firme decisão em apoiar de forma entusiástica a candidatura de Aécio Neves à presidência da República.
Quanto às questões que maculariam nossa coligação, comparativamente a uma hipotética via de aliança com o PT, ou seja, desaparelhamento do Estado, favorecimento do grande capital, renuncia à sua soberania nacional e aliança com o capital financeiro internacional, basta recordar que o petismo que chegou ao poder se valeu de um quadro ligado à banca internacional, eleito pelo PSDB de Goiás, Henrique Meirelles, que veio a ser Presidente do Banco Central do Brasil – o que assegurou ganhos posteriores inusitados para instituições financeiras nacionais e internacionais.
O fato de que o PSB não se veja na condição de proprietário da verdade lhe permite entender que há uma possibilidade libertária na atual conjuntura, ou seja, desfazer o equívoco de que o futuro já tenha sido inventado por inteiro, por um único sujeito político. O futuro que vislumbramos guarda diferentes ordens de possibilidades e nos orientamos em direção a ele tendo por farol nossos valores históricos, democráticos e não a adesão acrítica a ideais que não nos pertencem.
Eduardo Campos compreendeu que um ciclo hegemônico se esgotara e com ele o dinamismo de nosso desenvolvimento econômico e social. O PSB, que sempre se posicionou em prol das causas populares, teve a coragem de extrair de sua leitura de conjuntura as devidas consequências políticas: precisamos recompor os fundamentos que permitirão melhorar a qualidade de vida de nossa gente. Para isso, é preciso ter a ousadia da mudança!
CARLOS SIQUEIRA, 59, advogado, é presidente Nacional do PSB e da Fundação João Mangabeira.
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Autor: Carlos Siqueira
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